quinta-feira, 20 de agosto de 2015

ENDODONTIA VETERINÁRIA I

A endodontia veterinária cuida da parte interna do dente e ao redor do ápice (tecidos periapicais).

Polpa dental: tecido interno do dente é constituído por tecido conjuntivo frouxo de origem mesenquimal, composto por pequenos vasos sanguíneos linfáticos, zona acelular ou de Weil, na qual está abrigado o Plexo nervoso de Raschkow, zona rica em células (fibroblastos, leucócitos, histiócitos, odontoblastos e células indiferenciadas de reserva) e substância intercelular. Tem as funções: formadora, nutricional, sensorial e de defesa. As células especializadas chamadas odontoblastos, presentes em toda a superfície da parede do canal pulpar, são responsáveis pela formação contínua de dentina (dentinogênese) durante a vida do animal. Seu formato varia, sendo células de aspecto cilíndrico na porção coronal, cuboides na porção cervical e achatadas em direção ao ápice.


Fig.01 – Polpa dental. Fonte: COHEN & BURNS, 2000.

A dentina é um tecido formado por cerca de 70% de hidroxiapatita, 20% de tecido orgânico (colágeno tipo I, III, V) e 10% de água, a polpa forma uma unidade embriológica e funcional com a dentina, chamada de complexo dentina-polpa.  A cavidade pulpar de cães e gatos com menos de um ano de idade é bastante ampla. A dentina primária é aquela secretada durante a formação dental até a completo fechamento do ápice (apicogênese), com o avançar da idade, as células depositam dentina secundária, diminuindo a cavidade pulpar. Lesões induzem as células odontoblásticas a produzir dentina terciária, ou reparadora, tentando evitar que haja comunicação da polpa com o exterior, é uma dentina irregular, por isso tende a ter mudança de cor, pode ser produzida em nível de esmalte.
Fig. 02 - Fases de envelhecimento do dente. Fonte: GORREL, 2010.

Fig. 03 – Ápice aberto, produção de dentina primária, após fechamento do ápice, produção de dentina secundária. Fonte: GORREL, 2010.

As células odontoblásticas deixam prolongamentos citoplasmáticos (fibra de Thomes) no interior da dentina, formando túbulos dentinários em certos terços do dente, os quais conferem permeabilidade ao dente. O diâmetro e número de túbulos diminuem em direção a junção amelodentinária ou amelocementária. Na coroa ocorre mais permeabilidade, pois há mais túbulos dentinários, existindo relação com mudança de coloração dentária. Esses túbulos são resultado da contínua deposição de dentina, seu formato é cônico, sendo assim, quanto mais velho mais afilado. Quanto maior o número de túbulos, mais quantidade de Smear layer, microrganismos fixam-se na parede de dentina, portanto no tratamento de canal deve-se remover essa camada, limpar parede dos túbulos. Dentro desses túbulos, existem também terminações nervosas, responsáveis pela sensação de dor.
Fig. 04 – Túbulos dentinários. Fonte: COHEN & BURNS, 2000.

A estimulação dolorosa ocorre devido ao rápido deslocamento dos fluidos dentro dos túbulos dentinários quando sofrem estímulos mecânicos, térmicos ou químicos. O deslocamento dos fluidos pode ser explicado pela Teoria Hidrodinâmica de Brännström, em que um movimento mínimo dentro dos túbulos dentinários causa uma pressão nos odontoblastos e estimula as fibras nervosas causando sensibilidade, mesmo o estímulo não chegando diretamente na polpa.

Ápice dental: região onde penetram os vasos sanguíneos e terminações nervosas da polpa. O ápice é formado por inúmeras perfurações ou foraminas, entre 70 a 90 delas, formando o delta apical. Contudo, o delta estará formado somente entre nove meses (primeiro molar inferior) e 11 meses (canino superior) de idade, em média. Antes disso, o ápice encontra-se aberto. O ápice contata diretamente com o ligamento periodontal, podendo haver influência de lesões periodontais a polpa e vice-versa, denominadas lesões endoperiodontais.

Fig. 05 - Sistema de Canais Radiculares - (a) odontoblastos na parede do canal, produzindo a pré-dentina; (b) túbulos dentinários, (c) foraminas que compõe o "Delta Apical". Fonte: www.loc.fmvz.usp.br

REFERÊNCIAS

GIOSO, M.A. Odontologia veterinária para o clínico de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole. 2007.

GORREL, C. Odontologia de Pequenos animais. [Tradução de: Small animal dentistry: Carla Augusto Thomaz et al]. Elsevier, Rio de Janeiro, p. 171-177, 2010. 

ROZA, M. R. Odontologia em Pequenos Animais – Rio de Janeiro: L.F. Livros de Veterinária, 2004.  

COHEN, S; BURNS. Caminhos da Polpa. 7. ed.; Guanabara Koogan, 2000.

Um comentário:

  1. Mara, sou aluna de Odonto (não sei se a anatomia interna de um canino varia muito pra de um humano), e tenho uma correçãozinha pra fazer, mas que é importante: o diâmetro dos túbulos dentinários realmente diminui quando estão próximos da junção amelodentinária e da junção dentinocementária. Só que o número de túbulos não diminui, nem aumenta. Na verdade, a densidade (número de túbulos por área) é que varia pq o trajeto dos túbulos é radial (como a roda de uma bicicleta), portanto, a densidade dos túbulos é maior quando eles tão próximos da polpa, sendo mais permeáveis nessa região.

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