A doença periodontal tem sido relatada como a
afecção que mais acomete os cães chegando a até 80% de prevalência em animais
acima de cinco anos, sendo a enfermidade mais comum em animais domésticos. É um processo que envolve a infecção e
inflamação do tecido de suporte e proteção dos dentes e pode acarretar a sua
perda, sendo a placa bacteriana o agente etiológico da doença, também chamada de biofilme dentário. A moléstia interfere
de maneira importante na qualidade de vida dos animais e na sua convivência com
seus donos.
Anatomia do dente canino
A doença é causada pelo acúmulo
de placa bacteriana (película glicoproteica) nos dentes e na gengiva,
principalmente no sulco gengival, onde a chamada limpeza natural promovida pela
língua, saliva e abrasão natural dos alimentos não proporciona ação eficiente. Para que a placa se estabilize, de forma a iniciar inflamação, é necessário um período de pelo menos 24 a 48 horas. As bactérias inicialmente
encontradas são microrganismos aeróbios, gram-positivos e sem motilidade. As bactérias fixam-se
ao dente, sobre elas agregam-se outras bactérias, minerais e subprodutos
bacterianos. A essa mineralização da placa bacteriana dá-se o nome de cálculo
dental, conhecido popularmente como tártaro dentário. Com a proliferação do
cálculo, há a formação de bolsas periodontais, estas favorecem ainda mais o
acúmulo de bactérias, com proliferação das anaeróbias, gram-negativas e com motilidade, muito
mais patogênicas e lesivas do que as anteriores. As bactérias por meio dos subprodutos
são capazes de lesar as estruturas periodontais, inicialmente esse processo
acomete apenas os tecidos gengivais, caracterizando a denominada gengivite, que
pode ser reversível, a partir da remoção do agente irritante. Mas posteriormente
pode se agravar e evoluir para um processo de periodontite, que envolve
alterações nos outros tecidos do periodonto e pode acarretar perda óssea, de
ligamento periodontal, cemento e até do elemento dental envolvido, sendo irreversível.
Podem-se formar ainda úlceras de contato na parte interna dos lábios e
bochechas, causado pelo atrito deste tecido com o cálculo dentário. Em casos
mais graves, com a perda da gengiva e do osso alveolar, a mandíbula fica fragilizada
podendo ocorrer fraturas.
Evolução da doença periodontal
Todos os cães acima de quatro
anos apresentam algum grau de doença periodontal em um ou mais dentes, sendo o
sinal mais comum a halitose (mau hálito), decorrente da putrefação dos tecidos e
fermentação bacteriana na bolsa periodontal, liberando gases voláteis sulfurosos.
Decorrente da afecção periodontal os gatos apresentam sensibilidade aumentada, diferente
dos cães que raramente mostram sinais de dor.
A doença periodontal se não tratada
pode causar distúrbios sistêmicos, que encurtam a sobrevida do animal. As
bactérias envolvidas no processo patológico do periodonto podem migrar por
bacteremia para outras regiões do corpo pela corrente sanguínea e colonizá-las,
causando lesões em órgãos vitais, como o coração, fígado, rins, pulmões e
também articulações.
Bactérias da Doença
Periodontal migram para outros órgãos, como rins,
fígado e coração, agravando outras doenças sistêmicas.
O diagnóstico é dado pelo exame clínico detalhado da cavidade
oral, baseado na inspeção direta do órgão dental, na sondagem e exploração das
bolsas periodontais e na avaliação radiográfica.
O tratamento periodontal especializado tem como objetivo
controlar os microrganismos, restaurar a anatomia e a fisiologia normais e
evitar nova adesão de placa bacteriana às superfícies dentais. Só um
profissional que atue em Odontologia Veterinária fará a avaliação, tratamento e
prevenção corretos.
A palavra-chave para doença periodontal é a prevenção.
Começando a partir de um ano de idade, todo animal deve ter seus dentes
tratados uma vez por ano com um especialista para prevenir dano irreversível e
perda de aderência dos tecidos periodontais. Todo animal deve também receber
tratamento doméstico regular, preferivelmente escovação com uma pasta
enzimática para animais.
Com medidas preventivas, a necessidade para tratamentos mais
avançados é bastante reduzida. Não
somente é possível manter os dentes saudáveis e o hálito fresco, mas também poupar o animal de dor oral, desconforto na mastigação e
contaminação bacteriana sistêmica.
REFERÊNCIAS
GIOSO, M. A. Odontologia Veterinária: para o clínico de pequenos animais. 2 ed - Barueri,SP: Minha Editora, 2007.
MITCHELL, P. Q. Odontologia de pequenos animais; tradução de Marco Antonio Gioso - São Paulo: Roca, 2004.
PIERI, F. A. & MOREIRA, M.A.S. Doença periodontal em cães e prevenção. Clinica Veterinária, ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010.
ROZA, M. R da. Odontologia em pequenos animais - Rio de Janeiro: L.F.Livros de Veterinária, 2004.
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